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Maurício Nogueira é virologista e professor da Famerp de Rio Preto
Foto por: Arquivo pessoal
Maurício Nogueira é virologista e professor da Famerp de Rio Preto

"Governo precisa investir em rede pública de laboratórios", afirma virologista da Famerp

Por: Maurício Nogueira/ FOLHAPRESS
26/02/2020 às 14:38
Saúde

O virologista Maurício Nogueira, professor da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, faz análise sobre as mudanças no Brasil com o 1º caso da doença confirmado no País.


SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (SP) - Na terça (25), tivemos a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus no país (o chamado Sars-CoV-2) pelas autoridades sanitárias. O que isso muda para o Brasil?

Na verdade, a situação tem mudado rapidamente e de forma dinâmica, e este é apenas mais um detalhe de uma situação cada vez mais preocupante. Outras notícias também nos causam preocupação. O número de casos na Itália, na Coreia do Sul e no Irã parecem sugerir que temos uma transmissão sustentada, e não apenas casos esporádicos fora da Wuhan.

Até alguns dias atrás, a maioria dos casos fora da China eram de pessoas que viajaram para a região ou que tiveram contatos próximos com elas. 

Agora temos uma outra situação epidemiológica na qual mais países estão mantendo uma transmissão local. O fato de a Itália ter transmissão comprovada pode ser o primeiro sinal de uma pandemia, já que no caso do vírus Influenza o critério da OMS de pandemia é "transmissão sustentada de um novo vírus em duas regiões diferentes”.

Outra notícia preocupante ontem foi a constatação do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos de que a epidemia do novo coronavírus CoV-2 lá será apenas uma questão de quando vai acontecer e com qual gravidade.

E aqui? Com o primeiro caso e neste contexto mundial, sou tentado a seguir as palavras do CDC e também acreditar que agora é questão de tempo para a epidemia chegar e sabermos com qual gravidade. 

Qual o caminho agora? A preparação intensiva para o surto. Algumas boas medidas, porém, já têm sido tomadas há alguns anos. Na verdade, desde a epidemia do H1N1 em 2009, os hospitais brasileiros criaram mecanismos muito positivos para controle de doenças respiratórias. Máscaras são distribuídas logo na emergência, protocolos de isolamento são seguidos e métodos de diagnostico de vírus respiratórios foram incluídos nas suas rotinas.

Novos hábitos contra gripe, popularizados em 2009, como lavar as mãos regularmente (de preferência com água e sabão, mas álcool também ajuda), cobrir tosse e espirro com as mãos, evitar lugares cheios durante a epidemia e procurar imediatamente o sistema de saúde quando surgirem sintomas sugestivos, são extremamente válidos e efetivos para o CoV-2. 

Outro agente importante nesta mudança é o Estado brasileiro. Em todas as suas esferas (municipal, estadual e federal), os planos de contingência devem estar preparados. A confirmação do caso deve elevar a prontidão de todos esses programas. A vigilância epidemiológica deve estar bastante sensível para detectar precocemente os casos, e medidas de contenção (nem sempre simpáticas) devem ser tomadas rapidamente. O Estado deve estar pronto e preparado para usar o código sanitário para o bem da população e evitar o populismo individualista, caso sejam necessárias medidas como as tomadas na Itália (cancelar missas, jogo de futebol e mesmo aulas em escolas). 

Dois pontos importantes:

1) O governo (e em especial o do estado de São Paulo) precisa investir fortemente na sua rede de laboratório. É sintomático que duas doenças emergentes tenham sido detectadas na rede privada (O sábia e o CoV-2). A rede pública de São Paulo (que inclui Pasteur, Instituto Biológico e Adolfo Lutz) tem uma grande experiência e pessoal altamente qualificado para agir nestas situações, mas foram sucateados nos últimos governos. São Paulo e o Brasil precisam destes órgãos funcionando na sua plenitude.

2) Para controlar a epidemia de CoV-2 vamos precisar também controlar a epidemia de fake news no assunto. Não existem tratamentos milagrosos, não existem vacinas homeopáticas, não existem conspirações por trás disso tudo. Existe a emergência de um novo vírus, fenômeno esperado e explicado pela biologia, e cabe à ciência procurar e entregar as saídas.







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