Especialista afirma que a inflação deve ficar controlada, mas os preços continuarão altos e o reflexo das medidas pré-eleição poderão ser sentidos em 2023
O
desempenho da economia brasileira até o final do ano pode ser motivo de
entusiasmo, principalmente por parte de alguns segmentos da população que serão
beneficiados com a PEC Kamikaze (o apelido surgiu nos bastidores, porque a
equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, considerava suicida para as
contas públicas), que prevê a liberação de gastos do governo federal para a
criação de novos benefícios sociais ainda em 2022, ou seja, a menos de três
meses das eleições.
"A PEC vai injetar mais dinheiro
na economia, o que talvez evite, por exemplo, aquilo que estava previsto antes,
ou seja, um ou dois trimestres de recessão. Além disso, deve fazer com que o
PIB cresça um pouco em relação às previsões anteriores, porém ainda muito
distante de uma retomada sustentada. Vale lembrar que a redução do ICMS também
pode ajudar a controlar a inflação, quero dizer, só deixará de subir, mas os
preços continuarão altos”, explica Ricardo Balistiero, doutor em Economia e
coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT).
O economista ainda lembra que, até
o final do ano, o desemprego deverá continuar na casa dos dois dígitos, mas o
pior cenário para a economia em geral ainda chegará, em 2023. "Todas essas
medidas que o governo está adotando agora para controlar a inflação terão
reflexo no próximo ano. O País está aumentando a dívida para custear a PEC,
redução do ICMS, Auxílio Brasil etc. Teremos mais inflação no ano que vem, redução
de PIB e redução de investimentos, como já está acontecendo nas áreas de saúde
e educação, além da desmoralização por parte do governo com a responsabilidade
fiscal do País”, alerta Balistiero.
Outras ações governamentais,
especialmente em função da busca de popularidade visando às eleições, podem
ajudar a refrescar o segundo semestre deste ano, como o adiantamento do 13º
salário para aposentados e pensionistas, a permissão de saque de até R$ 1 mil
do FGTS, o pagamento do abono salarial atrasado de 2020, entre outros. "No
entanto, muitas dessas medidas já chegam defasadas para os beneficiários,
devido à persistência da inflação alta, que tem diminuído muito o poder de
compra das camadas de baixa renda, mas também se faz sentir sobre as famílias
de classe média. Na combinação com um mercado de trabalho frágil, que gera mais
ocupações informais e rebaixa o rendimento médio, a massa de rendimentos reais
não cresce e não fomenta a demanda”, conclui Balistiero.