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Cursinho prepara estudantes trans para o vestibular em São Paulo

Por: FOLHAPRESS - HAVOLENE VALINHOS
25/06/2022 às 14:00
Brasil e Mundo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Entre as dificuldades vividas por uma pessoa transgênero no Brasil está a de concluir o ensino regular, ingressar em uma universidade...


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Entre as dificuldades vividas por uma pessoa transgênero no Brasil está a de concluir o ensino regular, ingressar em uma universidade e nela permanecer.

Para tentar mudar esse quadro, o curso pré-vestibular Transformação vem buscando não só melhorar o acesso de mulheres e homens trans, travestis e pessoas não binárias à universidade, como também oferecer um espaço seguro de valorização de experiências e ampliação de rede de contatos dessa população.

"Conseguimos construir um espaço formativo e de sociabilidade sem pressões ou violência antitrans. Além da aprendizagem para o vestibular, preparamos o aluno politicamente e para o mercado de trabalho. Fora que ter contatos é muito importante", diz Adelaide Estorvo, mestre em ciências sociais pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e professora trans que leciona história no cursinho, localizado no centro da capital paulista.

O preparatório foi criado em 2015, a partir de um evento ocorrido na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo sobre exclusão de pessoas trans nos espaços de formação e no mercado de trabalho. Todos os alunos são transgênero, mas o corpo docente e a coordenação são formados por uma aliança entre pessoas cisgênero e transgênero.

Aluna logo no início, Amanda Paschoal foi aprovada em 2015 em turismo no Instituto Federal de São Paulo. Em 2019, entrou na pós-graduação em gestão cultural contemporânea, que concluiu na pandemia e, em paralelo, fez um curso técnico de guia de turismo. Hoje, atua como assessora parlamentar da vereadora Erika Hilton (PSOL).

A coordenação não tem registro de quantas pessoas, estudantes ou docentes, já participaram do cursinho. Algumas saem, mas acabam retornando.

É o caso de Ika Carneiro, que se preparou para o vestibular nos anos de 2016 e 2017 e entrou em 2018 na Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), onde estudou ciências sociais até o ano passado. Ela trancou a matrícula por não se identificar com o curso, além de ter dificuldades financeiras para se manter e conviver com os demais estudantes.

Ela recebia uma bolsa de R$ 440. "Fui a primeira travesti matriculada nesse curso. Não me sentia acolhida."

Ika voltou a frequentar as aulas do cursinho neste semestre. "Nem sei mensurar a importância disso, é outra experiência. Durante a infância e adolescência não me identificava com nada no ambiente escolar, apesar de sempre ter estudado e tido o desejo de fazer faculdade."

Hoje, Ika trabalha em uma empresa de tecnologia da informação e pretende prestar vestibular para se graduar na área.

O espaço tem dado outros frutos. Das aulas de língua portuguesa e das oficinas de criação de poesia surgiram dois projetos: o Transarau, coletivo de arte e poesia que se apresenta em praças públicas e espaços culturais, e a "Antologia Trans", livro publicado com poesias de 30 escritoras e escritores trans, travestis e não binários que fizeram ou não parte do cursinho.

"Há casos de pessoas que, ao terem seu poema selecionado, aproximaram-se do cursinho, alguns como alunos ou professores", explica Célia Amaral de Almeida, professora de humanidades desde 2016.

Para Keila Simpson, presidente da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), iniciativas como o cursinho são importantes porque suprem carências da escola regular e fazem com que as pessoas trans voltem a se interessar pelos estudos.

Ela diz que, além da qualificação, é fundamental que os gestores de cursos façam pontes com empresas para inserir esses alunos e alunas no mercado de trabalho. "Temos que formar e qualificar a pessoa trans, mas também sensibilizar com formações as empresas para mantê-la no quadro laboral."



Publicado em Sat, 25 Jun 2022 13:51:00 -0300







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