Morreu na noite desta quarta-feira (20), aos 62 anos, o cineasta Fábio Barreto, no Rio de Janeiro. Ele estava internado, em coma, havia dez anos, quando sofreu um acidente de carro. A causa da morte não foi divulgada.
Barreto dirigiu filmes como "O Quatrilho", pelo
qual foi indicado ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira em 1996, além
de "Luzia Homem", de 1988, e "Lula, o Filho do Brasil", de
2009. Este último foi escolhido para representar o Brasil
no Oscar de 2011, mas ficou de fora do páreo.
Lançado em 1995, "O Quatrilho" foi o segundo filme
brasileiro a ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, quebrando um
jejum de 33 anos —o único até então havia sido "O Pagador de
Promessas", de Anselmo Duarte, lançado em 1962.
O longa dos anos 1990, que acabou perdendo a estatueta para
o holandês "A Excêntrica Família de Antonia", fala de dois casais de
imigrantes italianos na região Sul do Brasil que vivem conflitos quando o
marido de um se apaixona pela mulher do outro. No elenco, estão Gloria Pires e
Patricia Pillar.
Fábio Barreto faz parte de uma das mais conhecidas famílias
de cineastas brasileiros. Seu pai é o produtor
Luiz Carlos Barreto, o Barretão, que esteve por trás de alguns dos maiores
clássicos do cinema novo, incluindo "Vidas Secas", dirigido por
Nelson Pereira dos Santos e lançado em 1963, e "Terra em Transe",
dirigido por Glauber Rocha e lançado em 1967.
Luiz Carlos também é pai de Bruno
Barreto, diretor de cinema responsável por longas como "Dona Flor
e Seus Dois Maridos", de 1976, e "O que É Isso, Companheiro", de
1997 —por esse último, Bruno concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro
dois anos depois que seu irmão mais novo, por "O Quatrilho". Barretão
também é pai de Paula, que produziu filmes como "Ela Disse, Ele
Disse" e "Flores Raras".
"Lula, o Filho do Brasil" foi o longa mais controverso da carreira de Fábio Barreto. A obra, lançada em 1º de janeiro de 2010, conta a trajetória do ex-presidente desde que sua família saiu do interior do Nordeste com destino a São Paulo até o momento em que ele se estabeleceu como líder sindical no ABC paulista.
Gloria Pires, que já havia atuado em "O Quatrilho",
voltou a trabalhar com o diretor, desta vez no papel de dona Lindu, mãe de
Lula. A obra recebeu avaliações negativas entre a crítica especializada,
incluindo nesta Folha. Para o crítico Inácio Araujo, a cinebiografia é
carregada de uma imagem acadêmica, linguagem arcaica e conformismo.
O longa foi lançado no último ano do mandato do presidente
petista e foi criticado como uma obra eleitoreira na época. Ainda em 2010,
durante a eleição que levaria Dilma ao poder, o título foi escolhido para
representar o Brasil no Oscar.
Na época, Roberto Farias, presidente da Academia Brasileira
de Cinema, afirmou que a escolha havia sido uma coincidência e que não tinha
nada a ver com a eleição, mas a decisão foi bastante criticada por cineastas,
incluindo Fernando Meirelles, de "Cidade de Deus".
A atriz Patricia Pillar se manifestou no Twitter:
"Muito triste... Fábio foi um grande companheiro e diretor talentoso e
delicado em ’O Quatrilho’, filme que tive o grande prazer em fazer e que foi
candidato ao Oscar de Melhor filme estrangeiro. Todo meu carinho à
família".
Além do pai de 91 anos, deixa a mãe, a
produtora Lucy Barreto, os irmãos Bruno e
Paula, e quatro filhos, Julia, João, Lucas e Mariana.
OS PRINCIPAIS FILMES DO DIRETOR
Índia, a Filha do Sol (1982)
Com Gloria Pires, conta a a história de uma índia de de Goiás que se envolve
com um homem branco.
O Quatrilho (1995)
O segundo filme brasileiro a ser indicado ao Oscar de filme estrangeiro na
história narra a saga de imigrantes italianos no sul do país. Com Gloria
Pires e Patrícia Pillar.
Lula, o Filho do Brasil (2010)
Longa narra vida do presidente Lula e também tem Glória Pires no elenco.