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Carlos Alexandre

Empresário, formado em Administração Pública pela Universidade Federal de Ouro Preto


Ágatha

Por: Carlos Alexandre
23/09/2019 às 16:04
Empresa | Empreendedorismo

Indo para escola, passeando ou voltando para casa. Portando uma mochila escolar, um guarda-chuva ou uma furadeira. Trabalhadores, crianças, mulheres.  Quase na sua totalidade negros, pobres, mortos em ações descomprometidas com as mais óbvias regras de segurança. Essa é a triste realidade da violência brasileira com forte destaque para o Rio de Janeiro.

Abatido na frente da família com 80 tiros, no próprio carro, ou morta aos 8 anos pelas costas, ao lado da mãe. No Rio se vai dos 8 aos 80, quando o lema é matar.

Sempre se acreditou na barbárie como resultado da enorme distância social que se agrava nesse país.  Mas tem sido a partir de um discurso inflamado de gente que acredita na violência para combater a violência, que tudo se transformou dessa forma.

Ah, vai dizer que antes estava tudo na paz?

Não. Nunca haverá paz enquanto houver injustiça, desigualdade, preconceito. Mas a morte de inocentes vinda de autoridade, de pessoa eleita para garantir o bem comum, ou de profissionais que deviam proteger, pode desencadear uma guerra civil trágica na nossa sociedade.

Acreditar no poder de fogo, das armas, para promoção da harmonia é visão turva, como é turva e contraditória a fé de quem se diz cristão, mas aposta na morte do pecador e não no fim do pecado.

E as mãos sujas de sangue são de quem manda, de quem obedece e de quem elege ou defende. Algum tempo atrás, alguém achou bonito esbravejar. Falar mal de todo mundo.  Babar com ódio contra isso ou aquele.  Agredir com palavras os discordantes. Vociferar contra as minorias. Defender a posse livre de armas. Combater os adversários com ferro e fogo.  Parece que funcionou.  Deu destaque em quem era tão apagado quanto um nada. Colocou-o no cargo maior.

Dali a pouco, um bando de idiotas passou a pegar carona nessa "vibe”.  Contaminou gente nas cidades e estados.  Uma onda desumana de irracionalidade. Até que um ou outro, passasse a uma posição de relevância e transformasse seu falatório eleitoreiro em plataforma de governo.

Eleito, que bom.  Bora executar.  Pouco importa se é coisa de gente ou de bicho. Da Ibope, manchete.  Bota para quebrar.  "Vamos atirar na cabeça”. Não foi bem isso?
Pronto.  E assim, agora é a pequena Ágatha Vitória, de 8 aninhos, que entra para as infelizes estatísticas.

Em queda de braços, família quer provar que não havia qualquer confronto.  A polícia, por sua vez, declara o contrário. Mas o que importa se era ou não confronto?  Quem morreu?  Quem levou a pior?  Quem foi o culpado?  Quem vai ser punido?  Quem vai trazer a menina de volta?  Quem vai garantir a tranquilidade da boa e honesta gente que mora naquele lugar e que é, sem dúvidas, a maioria?

Eu lamento.  Lamento só, não.  Eu protesto. Pouco adianta meu brado.  Vai mudar nada não.

Mas declaro assim mesmo minha indignação.  Porque acho que não vai parar.  Não vai acabar.  Não vai sequer diminuir se a gente só assistir.
Enquanto loucos estiverem no comando de qualquer coisa e enquanto irresponsáveis continuarem a admirar e eleger esses loucos, que nomeiam outros loucos, nunca terminará.

Por enquanto a comunidade ao Alemão fez uma manifestação pacífica e modesta.  Mas penso que dias virão em que o morro virá a baixo, ou o chão irá acima na defesa de tanta gente oprimida.

Confronto?  Aí sim vai ter. Enquanto alguns promovem campanha de prevenção ao suicídio, bastante séria por sinal, ainda tem gente que comemora o "pseudosuicídio” representado pelo assassinato constante de indefesos que simplesmente e descuidadamente insistem em viver em locais que desagradam e incomodam as elites.






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