Você conhece seu vizinho? Já falou com ele alguma vez? Seus filhos brincam juntos?
As perguntas acima são tão simples, mas, estranhamente, as
respostas a elas surpreendem: um número considerável de pessoas sequer sabe
quem vive na residência ao lado, se tem filhos ou se trabalha fora. E muitos só
tomam conhecimento de que há vida do outro lado do muro em razão de algum
conflito: som alto, latido de cães, barulho excessivo no andar de cima são
alguns deles. Ou por algum evento violento: um acidente, furto ou briga.
O distanciamento entre as pessoas é um fenômeno que afeta
todas as relações sociais. Pais reclamam da falta de atenção, de uma visita dos
filhos ou mesmo de um simples telefonema. Filhos se ressentem da falta de
convívio com os pais, dos jogos, brincadeiras e ajuda no dever de casa. Maridos
e esposas cobram uns dos outros maior participação nas respectivas tarefas.
Amigos se saúdam com um sonoro: "Está sumido, hein!”, só para ouvir de volta
um: "Ah, mas você também!” seguido por: "Rapaz, estou numa correria!”.
E aí está a grande culpada: a correria que, aliás, virou
justificativa para (quase) tudo. Dividimos nosso tempo na busca por nossos
ideais profissionais, que implicam em horas de estudo, metas e desafios cada
vez maiores. Substituímos o velho e bom "olho no olho”, ou mesmo uma conversa
por telefone, por rápidas e mecânicas mensagens por aplicativos e redes
sociais. Consumimos mais, nos exercitamos menos, somos mais estressados, mais
deprimidos e estamos sempre cansados. E nessa velocidade com que passamos pela
vida, como encontrar tempo para tarefas simples, como ler um livro (para você
ou para uma criança) ou passear na praça?
Não que a correria e o cansaço do dia a dia não sejam reais
e relevantes, mas há muitas coisas reais e relevantes que merecem nosso olhar!
Vou me ater a apenas uma: convívio familiar e social. O convívio saudável se
estende de casa para o mundo: podemos ser pais, filhos, maridos, esposas e
amigos mais presentes. E vizinhos mais solidários! O que nos conduz de volta ao
tema deste artigo.
O Programa Vizinhança Solidária (PVS), da Polícia Militar
paulista, vem ao encontro da ideia de que o sentimento de pertencimento social
reduz a indiferença e intolerância para com o próximo e que essa mudança de
atitude resgata a percepção de segurança, por meio de posturas preventivas
individuais e coletivas. A própria comunidade pode tomar a iniciativa de formar
núcleos de Vizinhança Solidária. Basta fazer contato com a unidade da Polícia
Militar que atende seu bairro. A partir daí será identificado um líder
comunitário e as pessoas interessadas em participar, voluntariamente, serão
convidadas a assistir uma palestra sobre segurança e prevenção. A comunicação
entre os integrantes do núcleo do PVS será feita por meio de grupo criado em
aplicativo de troca de mensagens pelo policial militar que patrulha o bairro. E
as ruas da vizinhança serão identificadas por placas com os dizeres: "Área
vigiada pela comunidade. Comunicamos toda atitude suspeita imediatamente para a
polícia.” Este programa tem tido resultados excelentes na redução de
crimes e dos conflitos sociais e hoje já existem mais de 2.070 núcleos
espalhados por todo o estado de São Paulo.
Recuperar a convivência nos espaços públicos nos dá outra
dimensão do nosso papel social. A vida não acontece somente do portão de casa
ou do trabalho para dentro. Em algum momento de nosso dia seremos motoristas e,
em outros, pedestres. Seremos consumidores ou empreendedores, utilizaremos o
transporte público e serviços essenciais, como coleta de lixo, escolas e postos
de saúde e teremos a percepção das deficiências e possibilidades de melhoria
das vias e dos equipamentos públicos. O sentimento de pertencimento melhora os
relacionamentos interpessoais, é essencial para a qualidade de vida, além de
que bairros bem cuidados e seguros têm maior valorização imobiliária e atraem
bons investimentos.