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Wilson Guilherme

Jornalista e escritor


O Brasil é um país com ideias fora de lugar

Por: Wilson Guilherme
10/09/2019 às 13:57
Wilson Guilherme

A repórter da então TV Globo Noroeste Paulista caminha em direção às margens do rio Tietê inundado e encontra um morador ribeirinho de cócoras, olhar fixo no  mar de água doce formado para a geração de energia da Usina de Três Irmãos, em Pereira Barreto.

A CESP, responsável pela obra, montou uma operação espalhafatosa para salvar os bichos atingidos pela inundação, priorizando o impacto sobre a população de  cervos-do-pantanal. A Companhia utilizou helicópteros na  operação, o que garantiu espaço maior na mídia regional e estadual, deixando questões relevantes em segundo plano, como indenização de propriedades de moradores e acolhimento dos desabrigados. 

A repórter estica o microfone e pergunta pro ribeirinho, que resistia em abandonar o espaço que sempre habitou, "como ele estava vendo a situação.” A resposta dada se tornou emblemática:
- Estão mais preocupados em salvar os bichos do que salvar gente.

Ainda estávamos sob a camisa de força do dualismo ideológico capitalismo x socialismo. O Muro de Berlim "caiu” em 1989, portanto vivíamos fatos  históricos recentes, sem a distância necessária no tempo que nos dá isenção no  julgamento. Mas hoje percebe-se que a CESP foi  pioneira em surfar na embrionária e politicamente correta militância ambientalista.

Mesmo com o surgimento do Partido Verde Alemão em 1980 e a filial brasileira do PV, seis anos  depois, nenhum ser medianamente intelectualizado seria capaz de prever que  tipo de movimento de massa seria capaz de ocupar o  vazio ideológico deixado com a derrocada da União Soviética.

Voltamos a 2019. Os PVs europeus continuam levando  a causa ambientalista a sério, conquistando votação crescente a cada eleição disputada. O genérico brasileiro  deu no que deu, tornou-se propriedade de poucos, alugando espaço para muitos.Quem em sã consciência é capaz de afirmar que o PV brasileiro defende o ambiente?

Reforça-se a tese de que o Brasil é um país com ideias fora  do  lugar, importa o que é "moderno” nos grandes centros, mais como ornamento. A realidade mostra que que há um caminho intransponível entre teoria e prática. Vale lembrar que importamos o liberalismo em plena vigência da escravatura. 

No Brasil, as novas gerações não precisaram de um partido político para se engajar de maneira ferrenha mas pacífica na luta pela preservação da natureza. Longe de mim afirmar que a causa ambientalista é majoritariamente dominada pela esquerda; o fato é que o capitalismo gera em seu ventre crias que voltam contra ele: socialismo e ambientalismo são exemplos, respeitadas, é claro, origem e história de cada um.  

O dilema que se impõe hoje é: como convencer um troglodita que é  possível o desenvolvimento  com  sustentabilidade? Que, ao invés de botar fogo e desmatar, é mais rentável utilizar, sem destruir, a riqueza nativa encontrada na Amazônia? 

A reflexão do ribeirinho agachado  às margens do rio  Tietê foi invertida: hoje incentiva-se a ganância humana em detrimento da natureza. Reflexão final  (sem dor): não há e não haverá a médio e longo prazos nenhum governo capaz de estancar o avanço da onda verde formada pelas novas gerações  pra preservar o que é nosso desde o descobrimento. Se não é o único, nosso país é um dos poucos a ter nome de árvore: Pau Brasil.






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