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Eder Galavoti

Delegado de polícia e professor da academia de Polícia Civil de São Paulo, lateral direito e corintiano


Polícia e história de pescador

Por: Eder Galavoti
30/08/2019 às 09:54
Eder Galavoti

Recentemente o criminoso Mauricio Hernandez Norambuena foi extraditado para o Chile. Aqui no Brasil ele cumpria pena por ter participado do sequestro do publicitário Washington Olivetto no ano de 2001. Quando foi preso, Norambuena foi encaminhado para uma penitenciária comum e passou a conviver com presos comuns.

Daí, passou ele a ensinar na cadeia as técnicas de sequestro e terrorismo aprendidas com a Frente Patriótica Manuel Rodriguez (grupo terrorista do qual fazia parte no Chile). Antes do ano de 2000, tínhamos poucos registros dessa modalidade criminosa, mas a partir desse "intercambio de criminosos” o Estado de São Paulo passou a viver um "boom" de extorsões mediante sequestro. 

Trata-se de um dos crimes mais cruéis possíveis de se praticar. Vítimas são arrebatadas, às vezes mutiladas e familiares são torturados psicologicamente por vários dias para prestar resgate em dinheiro. Diante dessa crise, a Polícia Civil de São Paulo montou grupos especializados para enfrentamento, sendo que tive a honra de participar de várias investigações e resgate de vítimas.

Numa delas, lembro, faltavam quatro dias para o Natal e um rico fazendeiro do Estado de Mato Grosso do Sul teve seus filhos gêmeos de 1 ano de idade sequestrados. Então, lá fomos nós para as bandas do rio "Paranazão”, pois os sequestradores possivelmente estavam do lado paulista. 

Já tínhamos experiência de outros eventos, mas confesso que a foto dos dois barrigudinhos me deixaram muito preocupado. Pior ainda foi o presságio, pois logo que cheguei, numa diligência, perdi uma mochila com equipamentos. Nunca se pode errar num "causo” desse tipo, mas como conquistar a confiança de um pai desesperado e ele me permitir auxiliá-lo na negociação da vida de seus bebês? 

Bem que tentamos, mas não teve jeito, a pedido do pai, vitima, saímos do caso e ele efetuou o pagamento, afinal faltava apenas um dia para o Natal. Sob ordem dos sequestradores, durante a madrugada, seguiu por uma estrada e, ao passar numa ponte, jogou num rio um saco de lixo contendo muito dinheiro. Na mesma noite, os bebes foram encontrados abandonados numa rua de periferia. 

Ufa!!! Todos iriam passar a noite de Natal em família. Seguindo nosso trabalho, compartilhamos investigações e os autores foram identificados, sendo todos presos por policiais do Estado do Mato Grosso do Sul. Porém, o dinheiro não foi encontrado. Narraram os sequestradores que viram o saco cair no rio, mas não conseguiram resgatá-lo. Seria verdade? Pasmem. Quatro dias depois um andarilho achou minha bolsa e entregou-a na prefeitura. 

Como se não bastasse, um tal de Jadirson, em busca de traíras, enroscou seu anzol num saco preto e dentro dele achou a dinheirama. Jadirson, que não é traíra e sim muito honesto, apresentou toda a grana na delegacia e o BO ‘tá’ lá pra provar que tudo não foi história de pescador.






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