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Azor Lopes da Silva Júnior

Advogado, professor universitário e jornalista


O DIA DO FICO (que nem sempre dá certo...)

Por: Azor Lopes da Silva Júnior
06/09/2021 às 14:55
Azor Lopes da Silva Júnior

Dom Pedro I também disse: Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico

Isso minha querida mãe, dona Olga, mulher simples e amável, sempre me contava, no início de minha educação, enquanto me ensinava sobre as datas comemorativas e, na matemática, a tabuada e regra dos Noves fora, nada...

Era o 9 de janeiro de 1822, quando o Príncipe Regente fora convocado por seu pai, o Rei de Portugal Dom João VI, para retornar à Corte europeia, deixando ao Brasil novamente à condição de colônia. Nesse dia, convencido pela elite econômica agrária brasileira, se iniciaria um processo da independência, que seria proclamada no amanhã comemorado 7 de setembro.

A independência veio e, em 1824, a Constituição do Império fazia de Dom Pedro o Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil, mas, pouco depois (1989), a República viria a consolidar uma nova nação, sem espaços para o personalismo e o culto à tradições, marcas indeléveis da monarquia que, com elas, justifica o conservadorismo de seu modelo político, que na Idade Média tinha apoio na chamada Teoria do Direito Divino dos Reis.

Parece-me que a beleza da história é de sempre nos mostrar algumas verdades universais e atemporais da natureza humana: na luta pelo poder, os comportamentos se repetem, geração após geração.

Em 2020, outro que quase se definia como Defensor Perpétuo se esperneou até o último momento para permanecer no poder, fazendo-nos por em dúvida a própria consistência da democracia moderna: Donald Trump.

Mas a estratégia de manipular as massas pelas redes sociais não teve bom fim e, em 7 de novembro de 2020, o Colégio Eleitoral disse não ao Dia do Fico do 45º Presidente dos Estados Unidos, Donald John Trump.

O ano de 2021 tem sido tenso também aqui no independente Brasil; o 7 de setembro que sempre foi cultuado como data de civismo agora passa a ser referência de um dilema entre liberdade e excessos, numa disputa entre um só homem e outros 11. A estabilidade está, como nunca, instável; sob um aparente argumento (a liberdade) se escamoteia um jogo de interesses (a reeleição), fazendo das ruas e da data histórica um mero palco, onde as massas têm um papel semelhante ao dos figurantes na cinematografia.

E esses figurantes também só querem o que qualquer figurante quer: visibilidade efêmera e likes em suas redes sociais; a questão maior é que nem todos são ingênuos figurantes, mas aspirantes aos cargos eletivos que se avizinham para o esperado 2022.

Daí porque o foco, que revela atenção de muitos, são as polícias militares, onde dizem que estaria expressiva massa de bolsonaristas interessados em livremente manifestarem seu apoio ao presidente, num aparente movimento espontâneo que, de espontâneo na verdade não tem nada e mais se revela um novo Dia do Fico.

Falo aqui com a legitimidade de quem ingressou na Academia de Polícia Militar do Barro Branco, prestigiada instituição de ensino superior da Polícia Militar do Estado de São Paulo, aos 17 anos (o ano era 1982) e que, de 2012 a 2014 compôs o Alto Comando da corporação:  não há risco à democracia pelas vozes a atos dos policiais militares paulistas!

O que os cientistas-políticos chamam de Bolsonarismo – ou Bolsonarismo Radical – não é nada expressivo para além das ardentes redes sociais; esse movimento nasceu e somente angariou adeptos de todos os setores da sociedade, porque levantou bandeiras contra o Lulopetismo que se instalou no poder nacional em 2003 e ruiu com o Impeachment de Dilma Russeff em 2016.

O Lulopetismo abriu as portas para um modelo de establishment do politicamente correto em matéria de costumes, que se infiltrou nas elites intelectuais, artísticas e de comunicação social e que foi suportado por uma sociedade mais tradicionalista que progressista; sua derrocada acabou por ocorrer e o grito de oposição se legitimou com os escândalos de corrupção do governo petista e a condenação de seu maior líder populista: Luís Inácio Lula da Silva.

Jair Messias Bolsonaro, um político de menor grandeza no cenário da Câmara dos Deputados, seria o baluarte desse antipetismo e, por sua origem de militar, ganhou sim – seria negar a verdade dizer o contrário – a simpatia de boa parcela dos policiais militares; seu apelo populista e pequenos agrados à categoria alimentaram esse novo amor...

Estranhamente – e nada de estranho na verdade existe nisso – o mesmo não acontece nas Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) e, bem por isso, às vésperas do 7 de setembro de 2021, pouco se fala e nada se teme em relação aos militares federais...

É daí por que repito: a beleza da história é de sempre nos mostrar algumas verdades universais e atemporais da natureza humana: na luta pelo poder, os comportamentos se repetem, geração após geração.

Também no pós 1964 as polícias militares foram usadas como massa de manobra pelas elites civis e militares federais para a sustentação do poder; bem por essa razão, somente após anos de trabalho na proteção da sociedade é que as polícias militares começaram a ver ruir o preconceito de serem uma instituição de governos e não de Estado; foram investimentos numa nova cultura de polícia comunitária, numa filosofia de direitos humanos que permitiram um novo profissionalismo e uma nova imagem institucional de nossas forças policiais.

Mas por qual motivo estaríamos vendo a triste história se repetir?

Não é sem base que podemos sondar como causas aquilo que alguns chamaram Efeito Bolsonaro, referindo-se à quantidade de militares federais e estaduais, além de agentes das forças de segurança que a onda Bolsonaro levou ao Congresso Nacional em 2018 e às Câmaras Municipais e prefeituras em 2020, ainda que em menor intensidade nestas últimas.

Surgem os oportunistas – dentro do legítimo jogo político – que pretendem fazer voltar essa onda, para surfarem nela em 2022 e, o 7 de setembro de 2021 poderá ser um palco ideal para eles; ao lado deles, uma legião de boas pessoas, de bons princípios, que não percebem – ou se percebem pouco se importam – esses parceiros de ocasião.

A regra do jogo democrático é clara: todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização; o 7 de setembro é uma data histórica e uma homenagem ao civismo; nada disso nos permite apologia e idolatria ao populismo e ignorar daquilo que a história nos ensinou.

Os governos passam; as instituições de Estado ficam.

O Dia do Fico deve ser um prelúdio de nossa Independência em relação à idolatria, porque um dia nos fizemos República e, na República, não há espaço para mitos.






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