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Fabricio Mazocco

É jornalista, doutor em Ciência Política pela UFSCar. Autor de obras como “Patente e Mídia” e “Contrapontos – uma biografia de Augusto Licks”. Não é filiado a nenhum partido político.


O reinado sem coroa

Por: Fabricio Mazocco
21/02/2021 às 11:05
Geral

Quando pequeno era fascinado pelos causos que envolviam reis, rainhas, príncipes, princesas, castelos, dragões e outras nem tão fantasias assim. 

O fascínio, talvez, dava-se porque a maioria dos causos seguia o mesmo enredo. Ao crescer e abrir os livros de história e não de estórias (houve um tempo em que havia diferença entre uma e outra) foi fácil notar que o tempo dessa fantasia que tanto ouvi também foi conhecida como Idade Média ou Idade das Trevas. Nunca mais me aventurei a ouvir esse tipo de estória.

E quem diria que, em pleno século 21, esse tempo reinaria em nossas terras tupiniquins (que teve um rei só de passagem fugindo do gigante Bonaparte). Os nomes mudaram, as fantasias também, mas a essência é a mesma.

Temos um rei que diz que tudo sabe. Vive de boa comida tirada dos plebeus (inclusive, leite condensado). Sua morada é num Palácio, o da Alvorada. Cheio de súditos a seu dispor, curandeiros que acreditam em cloroquina estão à sua disposição 24 horas (não são do SUS). É protegido por Dragões. Isso mesmo, os Dragões da Independência.

Diferente dos reis, que contavam com um empregado que ia até os plebeus e contava mentiras oficias, hoje nosso rei conta com o Twitter, que diga-se de passagem, é muito mais rápido e eficiente.

Igual os reis da Idade Média, o nosso também detesta a ciência. Os cientistas são perseguidos, insultados e aqueles que ousam enfrentá-lo, não são queimados – muito pior: são cancelados, porque continuam vivos, mas isolados, cheio de chacotas vindas dos seguidores do rei. E se a ciência é inimiga, a igreja é parceira, igualzinho naquele tempo. "Deus acima de tudo”, gritam os súditos modernos com arma em uma das mãos e fake news no Whatsapp na outra, espumando de ódio pela boca e dispostas a matar – em nome do rei.

O nosso rei também tem filhos e faz de tudo para protegê-los, inclusive muda decretos, leis, juízes, tudo que estiver na frente de sua indefesa prole, cheirando a chocolate Kopenhagen. Da rainha pouco se fala, pouco se tem notícia, talvez só de um tal de cheque que foi depositado em sua conta.

Com tudo isso, a Idade das Trevas continua viva como nunca se viu ou ouviu falar. Enquanto ainda tivermos livros de histórias, saberemos que um dia, se o Rei deixar, tudo isso possa ser contado e cause nas crianças um medo do tamanho dos dragões que cuspiam fogo. Porém, se tudo continuar como o Rei quer, essa estória se tornará história, e todos irão gritar: salve o rei, enquanto morrem de miséria ou por um vírus, que o Rei jura que nunca existiu. No final das contas, toda semelhança dos nossos tempos com o da Idade Média, possa parecer um dia, apenas mera coincidência.






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