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Haig Apovian

Presidente da União Geral Armênia de Beneficência (UGAB) Brasil


Povo armênio: unidade, resiliência e o acordo pelo fim da guerra

Por: Haig Apovian
11/11/2020 às 14:57
Haig Apovian

Desde 27 de setembro o povo armênio vem sofrendo ataques sanguinários e desiguais de forças militares integradas entre o Azerbaijão, a Turquia e paramilitares integrantes do ISIS (Estado Islâmico), na Síria. 

O objetivo é tomar de assalto território de Nagorno-Karabakh, também conhecido como Estado de Artsakh, que há décadas tem sua autonomia definida através de plebiscito pela população local, composta majoritariamente por armênios. 

A guerra já provocou milhares de mortos e feridos em 44 dias de duração – observadores independentes estimam em quase 5 mil o número de mortes. Importante destacar que, além dos bombardeios sobre civis e da pandemia de Covid-19, o povo de Artsakh passou a enfrentar junto com a guerra uma terceira ameaça: a destruição do meio ambiente devido ao uso de armas a base de fósforo branco, arma ilegal, que passou a ser despejado sobre as florestas da região. 

Agora recebemos o anúncio de um acordo de cessar fogo, mediado pelo governo russo, e assinado pelos governos da Armênia e Azerbaijão. Sabemos que todos os ataques e bombardeios sobre Artsakh tinham e têm como objetivo desestabilizar o governo autônomo local e expulsar a população. Foi golpeado o sistema democrático com a guerra. A população civil, os militares que defenderam sua nação e sua cultura foram passados para trás.

O uso desproporcional de forças militares contra o povo de Artsakh e os armênios resultou em mortes – a continuidade de um genocídio que o povo armênio vem sofrendo há mais de um século.

Para se ter ideia do que a população de Artsakh sofreu, ao longo dos últimos 44 dias, escolas, catedrais e maternidades foram alvo de bombas de fragmentação (que possuem uso proibido em áreas civis por convenções internacionais). O perigo das explosões e armas químicas (bombas de fósforo branco) impediram crianças de saírem de suas casas para ir às aulas porque os prédios foram destruídos por bombas. Os ataques destruíram mais de 70 unidades escolares. Mais de 28.000 crianças em idade escolar que não podem frequentar as aulas, ficando privadas do direito à educação. 

Todos esses crimes de guerra ocorreram com total silêncio da comunidade internacional, sem que articulassem uma manifestação repudiando as agressões ou apoio à interrupção aos trágicos eventos que se tornaram crimes de guerra do forte contra o fraco. Vidas humanas e dignidade de um povo foram ignorados.

Na noite de 9 de novembro aqui no Brasil, já dia 10 de novembro em Artsakh, recebemos o anúncio de que um acordo entre a Armênia e o Azerbaijão, sob a condução da Rússia, foi assinado, interrompendo os combates e ponto um suposto ponto final numa guerra suja e cruel.   

Esse acordo revela mais uma vez que a opressão sofrida pelos armênios em Artsakh, não se moveu um milímetro a favor dessa minoria que representa a base do cristianismo, uma cultura milenar e base da democracia no Cáucaso.

Armênios nos quatro cantos do mundo se mobilizaram nesses dois últimos meses de guerra em Artsakh. Desenvolveram campanhas de ajuda aos combatentes e à população oprimida. Diversas evidências de crimes contra a humanidade cometidos pela aliança Azerbaijão, Turquia, ISIS foram publicados na imprensa mundial com clara demonstração de violações de leis internacionais e dos direitos humanos praticados contra a população civil do território de Nagorno-Karabakh usando drones, bombas de fragmentação, bombas de fósforo branco, tudo isso com o apoio da força aérea turca para destruir cidades históricas inteiras.

Por 44 dias, nossa nação global experimentou uma miríade de emoções – orgulho, excitação, medo, raiva, frustração, tristeza. Podemos ter receio do futuro e questionar o que está por vir, mas em momentos assim, os armênios mostram ainda mais sua verdadeira força e caráter. Somos sobreviventes! Aprendemos ao longo de milênios de existência que não importa quais obstáculos ou poderes tentem nos controlar, nosso espírito resistirá. Nosso legado na civilização é marcado por conquistas após conquistas. É nestes tempos em que nos sentimos desanimados que devemos olhar para a nossa história como a melhor história de existência, resistência e resiliência.

Mas parece que todas as denúncias realizadas ao longo desses últimos 44 dias antes da assinatura do acordo dirigido pela Rússia não foram capazes de se fazer ouvir. Todos os apelos e denúncias foram ignorados ou ocultados, enquanto a situação em Artsakh só piorava. Ninguém se dispôs a responder ao clamor do povo armênio, que gritava em voz inaudível para a comunidade internacional. 

As atrocidades da guerra suja e cruel não foram capazes de sensibilizar os governantes das principais potencias mundiais.

Mas podemos dizer que mais uma vez, o povo armênio continuará a escrever sua história. Os genocidas e os governantes insensíveis terão suas biografias registradas pela história.

O povo de Artsakh teve suas casas destruídas e precisou fugir para não morrer. O cidadão que teve sua vida desrespeitada, seus entes queridos assassinados por bombas e drones suicidas continuarão a resistir. Continuarão a vida, hoje marcada pelas atrocidades da guerra, e que em médio e longo prazos continuarão a busca por justiça. O súbito ataque às nossas terras liberou um sentimento para nos unirmos como nunca. É essa história que escreverá um novo capítulo no qual continuaremos trabalhando juntos e construindo pontes para o futuro. Cada um de nós contribuirá para a cura e reconstrução necessárias para apoiar nossa nação e nosso povo.

É nosso dever encontrar a paz dentro de nós mesmos e ressurgir prontos para nos unirmos com esse mesmo espírito de construção da nação.

Devemos isso aos nossos diversos heróis, àqueles que perderam suas vidas, àqueles que sofreram ferimentos e àqueles com dor em seus corações. A Armênia precisa de todos nós. Artsakh precisa de todos nós. Precisamos um do outro mais do que nunca.

Apelamos a todos os devotos de nossa nação – indivíduos, organizações humanitárias ou sociais, bem como todos os partidos políticos dentro ou fora da Armênia – para se unirem e se levantarem enquanto enfrentamos quaisquer desafios nos próximos dias.

A UGAB está aqui e pronta para servir. Pronta para conectar e reconstruir. Pronta para apoiar nosso povo, nossas instituições, nosso governo e nossa igreja, e liderar conforme necessário enquanto avançamos juntos.

Agora, mais do que nunca, a união faz a força!






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