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Wilson Guilherme

Jornalista e escritor


Diário da quarentena

Por: Wilson Guilherme
30/03/2020 às 08:22
Wilson Guilherme

Uns dizem quarentena (não importa que tenha menos de 40 dias); outros preferem confinamento; têm aqueles que acreditam ter imunidade maior e dizem que estão em lockdown. 

Prefiro dizer que sou um pássaro "engaiolado”; ainda  tenho água e alpiste suficientes mas a prisão é insuportável: a vontade é sair voando com gaiola e tudo. Não bastam comida e bebida, é necessário uma dose de esperança.

É desumano travar guerra com um inimigo invisível a olho nu e por tempo indeterminado: ele pode lhe atacar quando e em lugares que você menos espera. A paranoia é geral: tudo e todos são suspeitos. A mesma mão que afaga, que toca piano, que dá o  golpe de karatê, que tecla a urna da eleição,  pode se tornar o veículo da contaminação.

O Aedes, pelo menos, você pode ver, ouvir o zunido e, se for rápido, pode até dar uns tapas nesta que é a maior praga lançada pelo Egito.

O Crown, Coroa, Corona, parece coisa específica de monarquistas, mas não é:  ataca príncipes, mas não poupa ditadores, comunistas, anarquistas, fascistas. Na última categoria se enquadram governantes que se acham imunes ao vírus. Não se apresente ao Corona como isentão, tendo a imparcialidade de um gandula, que o inimigo te ferra do mesmo jeito, no mínimo 19 vezes. É um vírus que não suporta a exclusão, principalmente daqueles com mais de 60, que é o meu caso. 

Dá medo, mas o medo, muito mais do que a inteligência é o responsável pela sobrevivência da espécie humana. Daí a popularização do "quem tem c* tem medo”,  deixando muita gente com o dito  cujo na mão, neste momento de pandemia.

Dentro da faixa de risco, sigo as recomendações de quem entende do assunto e me tranco em casa, ruminando o ditado :os jovens caminham aos bandos; os adultos, aos pares; os velhos caminham sozinhos ( quando conseguem, acrescento eu).

O corona vírus impõe isolamento ainda maior. As circunstâncias fazem dos idosos PHD em solidão, pelo menos aqueles que têm preservado pelo menos um neurônio. É da natureza do ser humano pensar somente em si, independente da idade. Salve-se quem puder.

Quando o vírus da ignorância política se torna concorrente de uma pandemia, a tensão fica redobrada. 

Vivemos situações preocupantes: lavar as mãos para não  contrair o Corona, ao mesmo tempo que não  podemos lavar as mãos, ser omissos, com a ameaça de volta à ditadura.

Impactado pela avalanche de informações e fatos gerados no mundo todo, pensei  em terminar este texto dizendo que "nada será como antes”. 

Aí vejo  imagens de uma manifestação de empresários na avenida Alberto Andaló, dentro de seus carros com vidro fechado, fazendo buzinaço, pedindo a reabertura do  comércio.

Querem o tal isolamento vertical, que consiste em colocar os jovens, de preferência de corpos atléticos, pra trabalhar, ignorando o perigo de, ao voltarem pra casa, deixar a família na horizontal.

Se você está c*, andando, tossindo e espirrando  pro Coronavirus não conte comigo na sua passeata.






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