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Breno Aragon

Tecnólogo em informática, presidente do PSOL em Rio Preto e ex-integrante do Vergonha Rio Preto


O que a luta das mulheres tem a ver com você, mulher do século XXI?

Por: Breno Aragon
08/03/2020 às 15:02
Breno Aragon

Caro leitor, esse mês não sou eu que escreverei minha coluna. Com as excentricidades e excrescências de Bolsonaro contra a imprensa e contra a jornalista Patrícia da Folha, nosso presidente destila machismo, ódio contra as mulheres e a liberdade de imprensa.

Então nada melhor do que deixar escrever uma mulher feminista.

Aderindo ao movimento "Agora é que são elas". Cedo meu espaço para Jéssica. Jéssica é historiadora, professora, psicóloga e psicodramatista e atua a mais de uma década na militância política. Jéssica faz parte do coletivo feminista Juntas!

Por: Jéssica Oliveira, historiadora, psicóloga, psicodramatista e pós graduada em filosofia

Não aceito mais as coisas que não posso mudar, estou mudando as coisas que não posso aceitar. (Angela Davis)

Viver no século XXI, é viver em um período complexo, dialético e muitas vezes desconcertante. Ao passo que observamos uma série de avanços no campo econômico e político, ou seja, a classe média tendo um acesso maior ao consumo de bens e mercadorias, frenquentando espaços historicamente negados e desfrutando de direitos conquistados, também vivenciamos questões destes mesmos âmbitos, em estagnação ou até mesmo, retrocesso. 

E é sobre estagnações e retrocessos no que se referem aos direitos historicamente conquistados pelas mulheres, que pretendo dialogar a partir desse breve texto. É buscando o olhar e compreensão das mazelas do nosso presente, tentando compreender suas raízes em seu processo histórico, que esse texto se torna necessário.

Para entender os movimentos feministas atuais, é preciso entender suas origens, demandas e conquistas históricas, assim como entender seus movimentos constantes e ligados á totalidade em que estavam inseridas. Estudiosas do feminismo, costumam nomear tais movimentos, de ondas, pois, assim como as ondas do mar, que em seus constantes movimentos de crescentes, ápices e calmaria, as feministas ao longo dos mais variados momentos, também se movimentaram assim.

 O feminismo enquanto movimento organizado, surge apenas na metade do século XIX, entretanto, não se pode afirmar que antes não tivemos expressões pela história de mulheres que ousaram reivindicar direitos e outras formas de existir, mesmo não estando em grupos.

A primeira onda do feminismo podemos localizar temporalmente, no final do século XIX, até meados do século XX. Elas se organizaram em torno de direitos dentro da sociedade capitalista, que os homens já usufruíam há muito tempo e. Exemplo disso são: os direitos políticos, ou seja, poder votar e ser votada, alguns direitos trabalhistas e também questionaram a submissão da mulher ao homem, buscando assim, ocupar um espaço que sempre foi negado a elas, o público.

Importante lembrar que essa primeira onda estava imersa em questões conjunturais muito específicas e importantes, tais como: processo de industrialização em massa e ideologia positivista predominante. Todavia, apesar de no fim do século XIX, já se falar de progresso e apologias ao trabalho assalariado, muitos países ainda conviviam com o trabalho escravo. Parte do movimento de primeira onda, majoritariamente composto por mulheres negras, compreendiam que a luta pelo fim da escravidão, fazia parte da luta feminista, ou melhor, que não havia luta feminista sem a luta pelo fim de outras opressões e explorações humanas.

A segunda onda do feminismo, tem início na década de 50 e vai até a década de 80. Aqui inicia-se os estudos sobre a mulher em sociedade, suas questões específicas, formando-se assim uma teoria que serviria de base para a compreensão da opressão da mulher.

Podemos entender a segunda onda também recortada a partir das diferentes conjunturas em que o mundo se encontrava. Em termos de Europa e Estados Unidos, havia, principalmente a partir da década de 60, uma expressão de maior liberdade sexual, a partir da invenção da pílula anticoncepcional, do rock and roll, do entendimento de que os corpos das mulheres os pertencem. Entretanto, na América Latina, temos um período de extrema repressão política e social, ou seja, aquilo que nomeamos como Ditadura Civil Militar.

No Brasil, estivemos imersos nesse período por 21 anos, imersos em muito cerceamento de liberdades, em desumanização a partir de prisões arbitrárias, asilamento, torturas e mortes daqueles que se posicionavam contra o regime.

Muitas mulheres entendiam que as demandas feministas deveriam ser unidas neste momento com a luta por demandas democráticas, ou seja, a luta das mulheres também deveria ser a luta pelo fim da ditadura e início de uma sociedade democrática. 

A segunda onda, se por um lado lutou contra a ditadura militar, por outro lutou também contra a supremacia masculina, a violência sexual e pelo direito ao prazer. O primeiro grupo de que se tem notícia foi organizado em São Paulo em 1972, formado sobretudo por professoras universitárias, algumas recém-chegadas dos EUA e Europa, onde o movimento de mulheres tinha explodido com muita força. Se reuniram com o objetivo de pensar coletivamente sobre a condição feminina, a partir dos acontecimentos no mundo e no Brasil.

A terceira onda do movimento feminista, acontece principalmente após a década de 90 e vai ao encontro das diversas transformações mundiais nas últimas décadas, tais como a queda do muro de Berlim, fim das ditaduras, globalização, tecnologia, entre outros.

Neste momento o feminismo busca com mais afinco entender as interseccionalidades as quais as mulheres estão imersas, tais como: gênero, raça, classe social, idade, etc. Travando assim lutas amarradas, que pudessem dar conta dessas opressões combinadas. 

Demandas como: salários iguais, creches, legalização do aborto, fim da violência contra mulher, políticas públicas para as mulheres, são as grandes bandeiras desse momento. É como se as feministas de terceira onda, olhassem para trás e reivindicassem todas aquelas demandas não atendidas historicamente, e as colocassem como urgência nas pautas de luta. 

Com o tempo, cooptações partidárias e de mercado, grande parte desse feminismo acaba se institucionalizando e perdendo seu caráter revolucionário, mas isso é assunto para um próximo texto. 

Ufa, entender a história nem sempre é breve, não é? Mas é sempre necessário!

Entender como nossas mulheres ousaram lutar em tempos difíceis, para alcançar seus direitos negados, como colocaram suas vidas em risco, como enfrentaram os mais variados tipos de ataques e violências, nos provoca rapidamente pensamentos na ordem de: Eu preciso continuar, como continuar?

Continuaremos quando olhamos para o nosso país e vemos que temos um dos índices mais altos de violência contra mulher, continuaremos quando percebemos que ainda ganhamos menos que o homem para exercer a mesma função no mercado de trabalho; eu preciso continuar quando àquele que deveria me representar enquanto governante, profere palavras de ódio as nossas mulheres a todo tempo; eu preciso continuar quando nossas mulheres negras são as maiores vítimas de feminicídio; eu preciso continuar quando os meus direitos de viver em uma sociedade democrática encontram-se ameaçados com uma chamada direta de ataque ao Congresso. Eu devo continuar, pois sou mulher, sofro todos os dias e morro todos os dias pelo simples fato de ser mulher.







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