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Azor Lopes da Silva Júnior

Advogado, professor universitário e jornalista


O fato, a verdade e a crença

Por: Azor Lopes da Silva Júnior
13/12/2019 às 11:01
Azor Lopes da Silva Júnior

Convidado para compor a família DLNews como colunista, penso que, antes de tudo, deva me apresentar ao seleto público leitor... 

Adianto que aqui não se trata de uma apresentação curricular, mas, sobretudo, dos papéis sociais que me fizeram e fazem um ser em transformação constante; hoje advogado, a vida me presenteou com uma carreira universitária ainda ativa (21 anos como professor de Direito Penal, Processual Penal e Constitucional), outra como pesquisador (doutorado, mestrado e graduações) e, a mais vibrante: 34 anos como chefe de polícia (1982 a 2014)...

Daí porque elegi como tema de apresentação algo sobre "FATO, VERDADE E CRENÇA”; com isso pretendo provocar o leitor a perceber como, por vezes (e – pena – no mais das vezes) fazemos de todas estas a mesma; explico...

Há dados, elementos, seres e coisas que nos cercam provocando uma imagem mental (nas palavras de C.K. OGDEN & I.A. RICHARDS, 1923: o pensamento ou referência), contudo, como adotamos símbolos (em regra palavras) para significa-los, sua imperfeição acaba por fazê-las um meio de iludir ou ludibriar terceiros, servindo "para a promoção de finalidades ou propósitos do que como um meio de simbolizar referências”.

Aqui adotaremos que "fatos” são um dado objetivo, daí porque indiscutível: um apartamento abrigando 51 milhões de Reais; cenas de vídeo mostrando um assassinato; um homem vendendo droga ilícita; uma perseguição policial; etc.

Entretanto, quando falarmos de "Verdade”, isso implicará uma avaliação pelo espectador; nessa hora é que o espectador tomará os fatos (dados objetivos) e investigará suas motivações: os 51 milhões somente estavam guardados ou estavam escondidos porque fruto de corrupção? O homicida tinha motivos que justificavam o ato ou agira por ímpeto cruel? O traficante era resultado do meio sociocultural ou alguém movido pela ambição? O policial perseguidor não percebera o risco que a todos expôs ao longo da rota de fuga ou cumpriu o que a sociedade (e qual parcela dessa sociedade?) esperava dele? 

Por fim, o que aqui chamamos "crença” é o que justificamos como nossa opinião pessoal, nosso modo particular de pensar sobre um algo objetivo (um fato), sem que precisemos fundamentar ou mesmo convencer aos outros; geralmente nesses casos, lançamos mão do eufemismo: "penso assim, mas respeito opiniões em contrário”, quando, na verdade (aquela que jamais será confessada) nos manteremos intransigentes em nossa trincheira mental; as crenças nos imporão dogmas, o cavalheirismo nos sugerirá o eufemismo...

Convidado por um professor de jornalismo (não direi quem) para conduzir um "bate-papo” sobre segurança pública com seus alunos (não direi onde nem quando) é que percebi quão rica poderia ser (e acabou sendo) a conversa, quando permitimo-nos conectar o Direito (despido do "juridiquês”), a política (com suas pressões para elaboração de certas leis) e na realidade social (sob os diversos referentes idiossincráticos, sobre as mesmas referências).

Penso: a verdadeira busca das verdades sobre fatos só é possível quando se abdica das crenças. Agora que me conhecem um pouco, prometo que o próximo artigo enfrentará questões mais objetivas: fatos.






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