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Diego Polachini

Jornalista e presidente do diretório municipal do Republicanos


Por que a política em Rio Preto não forma novos líderes?

Por: Diego Polachini
21/11/2019 às 13:07
Diego Polachini

O festival de candidatos a vice-prefeito que inundou a política rio-pretense prova duas coisas: a habilidade e a força do prefeito Edinho Araújo (MDB) após 47 anos de vida pública (algo raro no cenário nacional) e a completa incapacidade da cidade gerar novas lideranças políticas ao longo dos anos.

Embora não seja nascido em Rio Preto, Edinho é sem dúvida o político de maior sucesso que a cidade já viu ao lado do ex-ministro Aloísio Nunes. A vantagem do emedebista para o tucano se dará, penso eu, na forma como irá terminar a carreira - ao que tudo indica, sem a polícia federal batendo na sua porta.

Tenho 34 anos e acompanho a política local desde meus 14 anos, quando Edinho venceu de maneira improvável sua primeira eleição na cidade. Creio que ainda devo ter perdida em uma das caixas a coleção de "santinhos” que eu fazia. Sim, eu gostava tanto que saía em busca das raridades como se fossem figurinhas da Copa. Eu sei, é esquisito.

Edinho está com a faca e o queijo na mão para tornar seu feito praticamente inatingível. Se conquistar o quarto mandato na eleição do ano que vem, ele terá se tornado o prefeito mais longevo da história rio-pretense. É uma marca pessoal expressiva e respeitável, mas ao mesmo tempo reforça o apontamento do primeiro parágrafo: cadê as novas lideranças?

Rio Preto é uma cidade conservadora. O fracasso do PT/PSOL ao longo dos anos e o resultado eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (80 a 20 contra o petista Fernando Haddad) evidencia esse perfil. Graças a Deus. Ocorre que justamente por preferir o conhecido ao desconhecido, o rio-pretense reluta a apostar em novos nomes. Por um lado é bom, pois nos preserva de uma aventura esquerdista (sinal da cruz três vezes!), mas por outro é ruim.

A sanha pela vaga de vice de Edinho, quase um Olimpo dos deuses a ser conquistado, revela na verdade a intenção pela sucessão do prefeito em 2024. Duas coisas precisam ser registradas: 1) apenas um vice-prefeito chegou ao posto máximo do município até hoje por vias eleitorais (Toninho Figueiredo, vice de Manoel Antunes entre 1983 e 1986) e 2) Edinho não é do tipo que gosta de compartilhar o holofote. 

Não acredito, sob nenhuma hipótese, que ele vá se empenhar com todas as forças na candidatura de alguém. É uma fiança muito cara. O ex-deputado Paulo Maluf (PP) experimentou pedir voto para o falecido ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e deu no que deu. "Se o Pitta não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim”, dizia ele. Foi uma catástrofe na capital paulista lembrada até hoje.

Nestes meus 20 anos de consciência política não me lembro de nenhum cacique partidário da cidade que tenha preparado um sucessor. Nem tucano, nem emedebista, nem pessebista, nem petista. Ninguém. O poder segue concentrado e, quando possível, em um movimento que um observador conspiracionista poderia questionar, alterna-se entre os nomes de sempre, isso desde Toninho e Mané.

Alguns destes líderes preferem levar o bastão para a sepultura política do que passá-lo a alguém. É um misto de prepotência com egoísmo somado a um controle quase absoluto do processo. Se de repente surge alguém novo no cenário logo é atraído/alijado e neutralizado. 

Em vista de algumas figuras que resolveram se apresentar ao posto mais cobiçado do momento, eu poderia de maneira oportunista colocar meu partido, o Republicanos, na disputa pela vaga como uma forma de vender uma dificuldade para conquistar facilidades. Não vou. Mesmo tendo sido o primeiro partido a apostar em Edinho em 2016.

Não farei isso, primeiro, porque reconheço nosso tamanho. Apesar de o meu partido ter 32 deputados federais, igual ao PSDB e maior que o DEM, ocupar a vice-presidência da Câmara Federal e ter destinado mais de R$ 16 milhões para a cidade nos últimos oito anos, nos falta protagonismo no governo do estado. Segundo, porque se eu tiver que me empolgar com algo é com uma candidatura a prefeito, não a vice.

Se sonhamos em ampliar o número de lideranças políticas na cidade temos que olhar para o alto, não para baixo. Todo mundo se recorda dos feitos de Alexandre, o Grande, não de Alexandre, o Médio. Isso serve para partidos de esquerda, de centro e de direita. Para a situação e para a oposição. Para isso é preciso disputar eleições majoritárias. Essa é a única forma de haver renovação.

A pesquisa divulgada recentemente mostrou Edinho sólido na liderança das intenções de voto. Experiente como ele é, sabe que pesquisas são fotografias momentâneas que podem (e certamente irão) sofrer mudanças, para cima ou para baixo. Há pontos fortes, quase inquebráveis, mas há fragilidades que certamente serão exploradas pelos adversários. 

Não há partida ganha antes do jogo. Ainda mais com esses tempos estranhos que temos vivido no Brasil em que qualquer novidade pode surpreender. Também é uma incógnita como será a participação do presidente Jair Bolsonaro, do governador João Doria e do vice, Rodrigo Garcia. São atores importantes que devem se movimentar na cidade.

É dever de casa o prefeito aglutinar as forças políticas no seu entorno e montar a chapa mais poderosa para vereadores. Aliás, pelo que tenho ouvido, todo dia tem alguém indo para o MDB. Naturalmente. Mas pode faltar ar para tanta gente respirar. E será uma decisão complicada (e bem curiosa) Edinho ter que escolher seu vice diante de tantos cortesãos palacianos e um bobo da corte. 

Outro assunto…
Causou certo alvoroço a proposta do vereador Fábio Marcondes (PL) de reduzir para 13 o número de vereadores na Câmara de Rio Preto, dois a partir de 2024 e mais dois a partir de 2028. O assunto dividiu opiniões sobretudo por questionarem as reais intenções do parlamentar ao apresentar esta ideia quando não pretende mais renovar seu mandato.

Perguntado por jornalistas, lideranças políticas e correligionários do Republicanos, minha resposta foi absolutamente técnica. Ponderei baseado em números reais e no que eu acredito a respeito da democracia, do parlamento e da necessidade dos freios e contrapesos em um sistema tripartite como o nosso.

Cada vereador e seu respectivo gabinete eliminado representa apenas e tão somente 1% do orçamento anual da Câmara. Isso derruba por terra a justificativa de que a proposta tem o objetivo de economizar recursos públicos. Sim, trata-se de uma economia, mas nem de longe representa um benefício ao considerarmos a perda da representatividade.

Outro ponto relevante é a atuação parlamentar que transcende as atividades semanais dentro da Câmara. O vereador é o agente mais próximo da comunidade e seu braço alcança onde muitas vezes o prefeito e seus secretários não chegam. Por vezes esse trabalho fiscalizador é mais importante que a apresentação de projetos inúteis.

É muito cômodo para algumas pessoas que têm acesso privilegiado ao poder, cujo telefone pessoal do prefeito está registrado na agenda, querer eliminar o único contato que pessoas da periferia têm para reclamar por saúde, educação e infraestrutura. A visão do Olimpo é muito diferente da realidade do barro que a maioria da população amassa.

Por último, e não menos importante, com menos vereadores diminuiu a resistência do Poder Legislativo diante de um Poder Executivo forte e potencialmente cooptador. Na teoria dos freios e contrapesos o Parlamento é essencial para segurar o ímpeto do outro poder, que por ofício tem tendências autoritárias. Isso em todas as esferas. 

Como também mencionei a quem me perguntou, temos no marketing um termo chamado "awareness”, que é a percepção de valor que uma pessoa tem pela marca ou por um produto. Entendo que a "percepção de valor” do cidadão em relação à Câmara é ruim por outras razões que não são as numéricas. É muito mais pelo comportamento dos parlamentares. A verdadeira oportunidade de mudança está aí.

Já imaginaram se, no futuro, com 13 vereadores, a Câmara continuar emitindo sinais ruins para a sociedade e a percepção de valor não melhorar? O que mais vai ser preciso eliminar? A democracia? Portanto, eu e o meu partido somos radicalmente contra a eliminação de uma cadeira sequer do parlamento municipal.






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