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Angélica Zignani

Diretora artística e de elenco da Cia dos Pés e ativista cultural


Queremos crianças como as de antes?

Por: Angélica Zignani
19/11/2019 às 13:39
Angélica Zignani

No entanto, o óbvio é uma oportunidade inesgotável de questionamentos, por conta dele nasce o argumento, voltemos no tempo então, através das palavras, para que seja um retorno saudável e consciente.

Voltemos ao tempo da obediência e da submissão, nesse tempo em que eram os tópicos de qualquer relacionamento. Seja ele profissional, amoroso ou familiar.

Em uma sociedade que abafava qualquer tipo de existência das minorias.

Não temos como negar, grandes mudanças aconteceram na sociedade ao longo dos últimos anos e isso explica mais diretamente as diferenças entre as crianças de hoje e as de antes.

Primitivamente no relacionamento entre homem e mulher, as funções sociais eram iguais. O homem caçava e pescava, a mulher desenvolvia a agricultura e as tarefas domésticas. É possível notar que igual não significa o mesmo, mas sim que as funções possuem valores harmoniosos, para o indivíduo e para o todo.

Com o aumento da riqueza individual do homem, a monopolização da política e a queda do direito materno, a desigualdade jurídico-social entre homens e mulheres se estabeleceu enormemente. Além de um abrupto rompimento de nossos entendimentos emocionais, de forma geral.

A mulher por muitos anos teve uma educação diferenciada da educação dada ao homem. Ela aprenderia a servir e Ele saberia assumir a posição de senhor todo poderoso.

No Brasil-colônia a Igreja deu início à educação, no entanto, a instrução ministrada pela igreja não incluía as mulheres.

Com a mudança da Corte Portuguesa para o Brasil foram abertas algumas escolas não religiosas onde as mulheres podiam estudar, entretanto, os estudos eram restritos aos conhecimentos de trabalhos manuais.

Com a Constituição de 1824 surgiram escolas destinadas à educação da mulher mas, ainda, voltada a trabalhos manuais, domésticos, cânticos e ensino brasileiro de instrução primária.

O Brasil-colônia regulava-se pelas leis portuguesas e mesmo após ter se tornado independente continuou valendo-se de legislação estrangeira. Por mais de trezentos anos vigorou as Ordenações Filipinas que em nada se identificavam com nossos usos, costumes e tradições. As Ordenações Filipinas traziam em seu âmago o conservadorismo do poder patriarcal vivido na idade média.

No regime das Ordenações, o marido não era condenado por aplicar castigos corporais à mulher e aos filhos.

Com a implantação do regime republicano brasileiro veio o Decreto n 181, de 24 de janeiro de 1890, que manteve o domínio patriarcal, no entanto, de forma mais suave quando dispôs sobre o casamento civil e retirou do marido o direito de impor castigo corpóreo a mulher e os filhos.

O Código Civil de 1916 sustentou os princípios conservadores mantendo o homem como chefe da sociedade conjugal.

Com o Código Eleitoral de 1932 surgiu um avanço nos direitos da mulher quando, permitiu à mulher o exercício do voto aos vinte e um anos de idade, tendo a Constituição Federal de 1934 reduzido esta idade para dezoito anos.

Transformações sociais e econômicas havidas no mundo, e em especial no Brasil, trouxeram à mulher a oportunidade de prestar atividades lucrativas, antes destinadas exclusivamente ao homem.

Por fim, em 1990, surgiu o Estatuto da Criança e do Adolescente que consagrou, definitivamente, o princípio constitucional da igualdade estabelecendo que o pátrio poder será exercido "em igualdade de condições pelo pai e pela mãe" e que o dever de sustento, guarda e educação dos filhos cabe a ambos.

A ciência não nos demonstra evidência de superioridade entre os sexos, tendo cada um deles funções orgânicas complementares na tarefa de reprodução da espécie.

O estatuto da Criança e do Adolescente surgiu em 1990, o que pode nos levar a pensar que em termos de oportunidades de direitos a criança começa a ser vista como indivíduo com interesses e direitos individuais a 29 anos atrás.

A criança de antes refletia a sociedade de antes. As de hoje refletem nossas conquistas femininas e as lutas para o reconhecimento das minorias. Mostram os nossos desejos individuais, pensam e agem, como a sociedade que tanto lutamos e lutaremos, a sociedade que enxerga finalmente o indivíduo existindo.

As crianças de hoje não são mais como as de antigamente.






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