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Abner Tofanelli

Violoncelista, artista de rua, ex-deputado jovem, estudante de Gestão Pública e ativista pela cultura e educação


Por que é tão complicado falar de política em Rio Preto?

Por: Abner Tofanelli
02/11/2019 às 10:42
Abner Tofanelli

Eu sou tão apaixonado pela política que fico muito intrigado quando percebo o tamanho da repulsa que a sociedade tem com o tema – e com razão. As pessoas parecem ter medo de tudo que envolve política.

Sempre parece ter algo por trás, uma contradição, uma corrupção, um plano obscuro, algo que gera desconfiança. Quando a gente nasce, parece até que o médico pega o bebê pelo pezinho dá três tapinhas e fala: política, religião e futebol não se discutem, porque a gente já cresce com essa ideia.

Quando tomamos consciência, principalmente se você for dependente dos principais serviços básicos que são públicos, como saúde, segurança e educação, começamos a perceber o quanto a política faz parte do nosso cotidiano. Se falta abastecimento de água ou saneamento básico na sua casa, tem política envolvida. Se seu filho teve aula vaga na escola, tem política envolvida. Se não tem seu remédio na UBS, tem política envolvida... Se eu for exemplificar tudo aqui, o artigo virará uma bíblia inacabável.

Portanto, o que faz a população ter tanta repulsa pelo termo? É interessante para quem que a população não goste de política? Afinal, a roda estrutural do nosso Estado gira através da política, da participação social, e principalmente pelos partidos. Não existe político sem partido no Brasil e esse é um debate que precisa realmente levado em consideração. O povo está desacreditado e a polarização potencializa isso, os partidos políticos não conversam verdadeiramente com a população, quase sempre as estruturas municipais são para interesses próprios ou de pequenos grupos. 

Os cidadãos sem padrinhos políticos, sem sobrenomes importantes, sem exorbitante capital financeiro, mas realmente entusiasmados e comprometidos na busca da inserção política, além de enfrentar todo o estereótipo negativo de "ser um político” (com razão), tem de enfrentar partidos políticos em sua maioria fisiológicos sem viés popular. Além da galera que tá indo pro terceiro, quarto, quinto e até sexto mandato que não larga o osso, acham que são ‘donos’ de algo por ter algum capital político e não abre espaço para novos quadros surgirem.  Mas por quê?

Em minha opinião, o Brasil precisa urgentemente de uma Reforma Política que priorize as cidades e a representatividade de forma mais eficaz, uma reforma estrutural, cultural. As pessoas não moram na Federação ou no Estado, as pessoas moram nas cidades. De que adianta aprovar cota de 30% para mulheres nas chapas eleitorais e a maioria ser laranja? De que adianta representante do Legislativo que só tem propriedade pra votar um ou outro projeto específico e não faz a menor questão de se aprofundar nos assuntos que envolvem a administração pública? Ou que vai impactar positivamente a vida do cidadão? 

Vejo muito político que sabe fazer campanha, mas não sabe ser representante coletivo. É possível um representante do povo ter propriedade sobre todos os assuntos? Acredito que não e é por isso mesmo que a Câmara Municipal deve ser uma extensão do clamor popular e não um castelo de interesses restritos. Os representantes precisam ter consciência de que eles não estão representando somente os seus três ou quatro mil votos, mas sim toda a população que vive na cidade. Nosso sistema eleitoral naturalmente cria esse problema quando os políticos se preocupam mais com a campanha do que com a produtividade do mandato.
 
Se é impossível que mais de meio milhão de habitantes sejam plenamente representados por dezessete pessoas, a maioria é de classe média alta que sequer depende dos serviços públicos. Por que, então, a maioria dos que estão no poder são eleitos? Porque aprenderam fazer campanha! Portanto, cheguei à conclusão de que pra conter os danos da falta de representatividade precisamos, além, claro, da sociedade civil organizada, eleger pessoas que carregam em si a melhor capacidade técnica e humana de representar o maior número de cidadãos e causas possíveis, que seja livre de preconceitos que o Estado não deve ter; que tenha a mente aberta para analisar o maior número de reivindicações e que tenha consciência da palavra "servir”, acredito que esse seja o melhor caminho pra termos um Legislativo mais eficaz, mais coeso e mais eficiente em curto prazo.

Pra finalizar eu não poderia deixar de dizer que essa semana a Câmara Municipal de Rio Preto protocolou a criação do "Dia da Oração pelas Autoridades”, e eu gostaria de perguntar diretamente pra você, caro cidadão: Isso vai trazer algum benefício palpável pra você? Culpar espíritos pelo caos que o país atravessa? Sua vida vai melhorar? Ou seu sofrimento vai diminuir? Você precisa de uma LEI para orar pelos políticos? Acho que tá na hora do terceiro Poder da República focar na produtividade. Eu não admito pagar os meus impostos para a Câmara Municipal ficar perdendo o pouquíssimo tempo de sessão semanal, discutindo nome de rua, nome de escola, criando dia disso ou daquilo. Temos prioridades. Precisamos de menos políticos e mais representantes.






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