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Denise Tremura

Escritora e influencer digital


A geração quase imune ao HIV

Por: Denise Tremura
27/10/2019 às 10:22
Denise Tremura

O aumento de novos casos de HIV entre os jovens traz dados alarmantes e preocupa os profissionais de saúde. No Brasil, o número de novas contaminações na faixa etária que vai de 15 a 24 anos é o maior de toda a América Latina, considerando a proporcionalidade da população. Mas quais seriam as causas dessa disparada de infecções precoces por uma doença que, até então, parecia estabilizada? Como explicar essa nova epidemia, mais de 20 anos após o pico, em 1997, apesar de toda a facilidade de acesso à informação? Por que os mais velhos não se contaminam tanto?

Os jovens de hoje compreendem o HIV como algo controlável, a AIDS como uma doença crônica que vai te obrigar a tomar remédio para sempre e levar uma vida OK. Não existem notícias frequentes de pessoas que morrem em decorrência da AIDS, essa doença moderna que afeta o sistema imunológico. Não raro tem um portador na família ou entre amigos que leva uma vida absolutamente normal, apesar do diagnóstico. Esses são os exemplos práticos a que essa nova geração está exposta.

As pessoas com mais de 35 anos (às quais eu me incluo), por sua vez, tiveram um contato muito mais impactante com a doença. A AIDS surgiu nos anos 80, quando éramos crianças e jovens e não sabíamos nada sobre ela: apenas que era transmitida pelo sexo e que matava muito rapidamente. Vimos nossos ídolos morrerem não muito tempo após o diagnóstico: Cazuza, Renato Russo, Fred Mercury, Caio Fernando Abreu, Henfil, Betinho (o irmão do Henfil que fala na música), Foucault e muitos outros ícones da nossa geração. Tínhamos medo. Pavor, na verdade. Sabíamos que a única forma de prevenir essa doença era usando preservativos nas relações sexuais, em todas. Até hoje, as pessoas sexualmente ativas com mais de 35 não se importam em usar a famosa camisinha, principalmente em um sexo casual, o que evitou também muitos nascimentos indesejados dos anos 90 para cá.

O jovem de hoje não teve esse impacto. Se o ídolo dele tem HIV ele provavelmente não sabe, porque a carga viral está sob controle e a doença não se desenvolve. Antigamente as pessoas emagreciam muito rápido, a AIDS era visível, assustadora e letal. Hoje, significa basicamente uma doença que te leva à chatice de tomar os remédios retrovirais todos os dias e vida que segue. Recentemente em uma rede social visualizei a postagem de um jovem dizendo que "usar celular sem a capa é como transar sem camisinha: é gostoso, mas dá medo” Na minha geração, transar sem camisinha era algo inimaginável, ninguém estava disposto a correr o risco, eu hein? Houve nitidamente uma mudança de postura com relação ao vírus.  

Segundos especialistas, o conservadorismo recente no Brasil que tenta de todas as formas inibir campanhas de prevenção e educação sexual nas escolas é o responsável por essa onda alarmante de contágio entre a nova geração. A informação faz toda a diferença na hora de decidir sobre o preservativo na relação sexual. Infelizmente, os extremistas acreditam que aula de educação sexual nas escolas vai incentivar seus filhos a praticarem sexo (como se precisassem de algum incentivo!) ou pensam que vai adiantar o processo de maturidade sexual, como se isso fosse algo evitável. Na maioria das famílias, os pais não conversam com os filhos sobre sexo e os adolescentes também sentem vergonha de perguntar aos pais sobre esses assuntos; eles não gostam que os pais percebam que já sentem desejo sexual, fingindo que ainda são crianças e não se interessam por essas coisas. Os tacanhos extremistas do conservadorismo não falam sobre sexo com seus filhos e também não querem que se fale sobre isso na escola, ou seja, estão colaborando para a nova epidemia de contágio que já assume dados alarmantes.

Está na hora de campanhas mais efetivas, tanto sobre os males do HIV e demais doenças sexualmente transmissíveis quanto pela importância da educação sexual nas escolas para ajudar a frear os índices crescentes de novos casos. E cabe a nós, adultos, passar nossa experiência e ensinar que o preservativo é pré-requisito para transar, tipo um uniforme, indispensável mesmo e que devemos ter sempre à mão para o caso de surgir aquele sexo casual que não estávamos esperando.

E adultos: parem de fingir que acreditam que os adolescentes não transam. Se ainda não transaram, mais cedo ou mais tarde vai acontecer. E é bom que eles estejam preparados e devidamente informados sobre os riscos que uma relação desprotegida pode implicar.

 






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