Bacurau
Por: Eder Galavoti
18/10/2019 às 13:50
Eder Galavoti
Em meio a vários lançamentos hollywoodianos fui assistir Bacurau. O
cinema nacional, apesar das tempestades, secas e bombardeios continua como erva
teimosa nascendo em meio ao nada. Por trás de uma história simples, que de
certa forma me lembrou um clássico trash do Van Damme, o filme se desenvolve
devagar.
O ritmo das cenas acompanha os dias que não passam num sertão esquecido
desse Brasil. Entretanto, aos poucos, sua
alta complexidade se revela. Temos uma comunidade que me pareceu sofrer de uma
depressão coletiva. Sim, a doença do mundo moderno está em qualquer lugar.
A ansiedade por tudo ou por nada. Todos tomam...
e que tal um remedinho pra aguentar ? O filme é nacional e então tem que ter
nudez. Rostinho bonito não existe. Barrigões,
peitos caídos estão ali pra te provocar um desconforto mesmo, mas que no fim
irão fazer refletir o quanto somos escravos de filtros do instagram.
Remeto à
situação da imagem que você vê e te incomoda quando se desnuda sozinho num
trocador de um magazine qualquer. Quase sempre nos enganamos e achamos que
aquele espelho e aquela luz não ajudam, muito embora sabemos decorado nossas
imperfeições.
O filme é nacional e então
também tem que ter sexo e ele está lá na forma de relacionamento líquido, escancarando
que somos bichos em busca de prazer momentâneo. Sexo sem romance e sexo sem música.
Também tem o puteiro de vanguarda. Um puteiro mambembe. Startup genuinamente
brasileira.
Completando a tríade, temos
sim a violência e com ela muito sangue. Temos um Rambo tupiniquim, agindo ao
estilo Tarantino. Coisa rica o personagem Lunga. Perfeita a caracterização dele. Agora sim um
herói brasileiro de verdade. Macunaíma nunca mais.
Observo, por fim, a melhor das mensagens
transmitidas e que é bastante atual. Como
será que somos vistos pelos países desenvolvidos ?Qual o grau de
subserviência que devemos ter em relação a eles ? Qual é a verdadeira capacidade
dos brasileiros ? Sacramentou Nelson Rodrigues que nós brasileiros sofremos do
complexo de vira-lata. Alguns estudos indicaram que isso veio de vivermos num
clima tropical, da nossa miscigenação, da falta de cultura e de uma educação
precária.
Por essas razões ficamos preguiçosos, focamos no prazer e deixamos de
lado o desenvolvimento. Será isso mesmo? Discordo. Como no filme, a formula é simples. Devemos em
primeiro lugar sair dessa depressão coletiva. Não importa se não somos caucasianos altos de
olhos azuis. Importa acreditar que somos capazes e que as chances acertar aumentam
quando há foco e união. Deixemos de lado a polarização histérica.
Filme bom tem
que fazer a gente pensar.
Então um viva pro cinema nacional.