"Eu queria te fazer uma canção...
...que fosse linda como és lindo, oh meu Brasil!
Eu queria conseguir saber cantar
o canto puro de cantiga de ninar.
Eu queria ver-te um dia repousar
sob o efeito da canção que eu fiz para ti.
Eu queria uma canção que fosse simples como a flor.
Eu queria, oh meu Brasil, o som do amor!”
Outro dia essa
singela canção surgiu em minha mente. Sabe aquelas musiquinhas que aprendíamos
na escola, quando crianças? A lembrança veio forte, completa, como se tivesse
aprendido no dia anterior e a murmurei baixinho, instintivamente.
Tanto tempo
depois! Lembro que quem nos ensinou foi a professora Neide, da matéria Educação
Artística, junto com desenho geométrico, aquarelas com tinta guache e outras
artes.
Lembranças felizes
de uma época feliz, apesar da vida simples e da falta de recursos financeiros.
Um único e gasto par de sapatos e um chinelo "de dedo”, além das roupas
herdadas do irmão mais velho eram suficientes. Os brinquedos, nós mesmos os produzíamos:
estilingue, pipa, um pneu velho para rodar.
Não quero de volta
esse tempo, pois já me acostumei com as facilidades atuais. Mas quero de volta
o respeito, a alegria e a despreocupação. Época em que ir à escola era o ponto
alto do meu dia, já que o restante do tempo seria dedicado às obrigações
domésticas e ao trabalho na chácara. Dona Nilse, Dona Diva, Dona Niria e Dona
Shirley eram minhas heroínas. Elas foram, respectivamente, minhas professoras
da 1ª a 4ª séries e são, em grande parte, depois da minha família, as
responsáveis pela pessoa que me tornei. Da mesma forma que me lembro com
carinho da canção e de tantas outras lições que aprendi, nossos professores
estão eternizados em nossas mentes e nas decisões que nos trouxeram ao momento
atual, e o valor disso é imensurável.
De lá para cá todos
nós mudamos e nem todas as mudanças foram negativas. Mudaram as gerações e
novos valores ganharam relevância, enquanto tantos outros deixaram de ter
importância. A falta de reverência ao professor não é necessariamente desrespeito,
afinal as relações familiares também se transformaram. Já não se pede a benção,
nem se beija a mão do mais velho, pai e mãe agora são tratados por "você”. Não
se recepciona o professor em pé, mas muitos se sentiriam constrangidos se isso
acontecesse. Claro que causa tristeza observar a deterioração das relações
humanas que contaminou também o ambiente escolar.
Para aqueles que se
sentem desalentados com o atual estado das coisas, há uma certeza
incontestável: a importância e o poder transformador da educação continuam os
mesmos! Ter isso em mente pode ser o combustível que nos falta para persistir,
insistir e investir na profissão de professor, acreditar que vale a pena, pois
a máxima de Pitágoras e suas variações: "Educai as crianças, para que não seja
necessário punir os homens.” está mais atual que dantes.
Neste mês em que
comemoramos o Dia dos Professores é importante fugir da crítica convencional,
que foca na violência nas escolas e na desvalorização da categoria e pensar nos
bons projetos que muitos professores reais desenvolvem e que, individualmente,
promovem uma silenciosa revolução social, façanha que, às vezes, políticas
públicas largamente alardeadas pelas autoridades não conseguem.
O "Prêmio Educador Nota 10” reúne iniciativas dessa natureza. O prêmio, que foi criado em 1998 pela Fundação Victor Civita, reconhece e valoriza professores da Educação Infantil ao Ensino Médio e também coordenadores pedagógicos e gestores escolares de escolas públicas e particulares de todo o país. Na edição de 2015 o vencedor do prêmio foi o Diretor da Escola de Ensino Fundamental II Darcy Ribeiro, em São José do Rio Preto, Diego Mahfouz Faria Lima. Por meio do projeto "Minha Escola: Reconstrução Coletiva”, o educador recuperou uma escola inteiramente depredada, ao longo do ano de 2014, envolvendo a comunidade, professores, pais, funcionários e o Conselho Escolar.
Exemplos como esse existem aos milhares. Segundo as informações contidas no site do prêmio (https://fvc.org.br/especiais/o-premio/), ao longo das últimas 21 edições, foram recebidos mais de 70 mil projetos, mostrando-nos que há sim muita coragem, vontade e esforço por parte de professores que jamais perderam a fé e, sabiamente, se desviam das dificuldades, em prol do bem maior, ensinar.
"Há problemas, eu sei, mas há flores.